História da mula Goiana

O causo de hoje é da mula Goiana. Já falecida, ela foi campeã Nacional em 1994, título contemplado com um Fusca 0km. A história é contada pelo criador Gigio Biasetto.

Por meio de meu amigo Estácio da cidade Almenara o qual comprei muita tropa. Um dia me ligou em 1988 disse que tinha uma mula pelo de rato da cidade Pedra Azul, que era um animal diferente muito boa. Passou uns dias fui comprar uma tropa do Estácio no vale do Jequitinhonha perguntei da tal mula, me disse que a mula tinha sido vendida pra um tropeiro de São Paulo que ele não conhecia. Me contou como era a mula, do seu andamento nisso chegou o Senhor ‘Dê’, da fazenda Barreiro me disse que ela tinha a marca cabeça de boi na paleta do Senhor Marcio Peixoto Fazenda sítio novo. E que nem daqui vinte anos iria nascer uma mula para andar como ela e disse:

-Não é bonita, mas boa igual ainda não vi, mas não vai ser difícil de achar ela em São Paulo.

Comecei a procurar me informar da tal mula, passou dois anos não tinha noticia dela. Um dia carreguei uma tropa sai para vender, fui parar na Prainha em Santo Amaro cheguei na cocheira do meu amigo Rubinho. Ele disse:

– Tenho uma mula pelo de rato, por nome Goiana vou mostrar pra você.

Quando abriu a porta da cocheira, ela estava igual leoa na Jaula, dava coice queria vir na gente, com um cabresto na cabeça, pois ele não tirava o cabresto dela. Peguei, tirei ela pra fora junto com um amigo Fabio Mineiro falei:

– Vamos arriar, repassar ela.

Para arriar e montar, teve que amarrar no palanque para sair nela. O mineiro voltou me disse:

– Nunca vi uma mula andar assim.

Eu montei e sai com ela, muito assustada deu uns pulos, e realmente também nunca vi um animal marchar o quanto que ela andava. Voltei, desci da mula fui reparando e vi a marca cabeça de boi na paleta percebi que era a mula que eu fui procurar lá no Vale do Jequitinhonha. Fiquei quieto, perguntei pro Rubinho quanto queria na mula, me respondeu que queria 1 milhão, mas  só iria vender depois que voltasse da romaria de Aparecida. Eu disse que quando ele chegar me avisasse assim foi.

Carreguei doze animais, sendo quatro mulas e oito cavalos e falei pro Boninha:

– Eu vou trocar essa tropa, nem que eu volte à diferença, mas trago a mula Goiana embora pro Rancho.

Viajamos até lá, quando cheguei na cocheira dele falei pro Rubinho:

-Estou com uma tropa no caminhão, vê quantos animais você quer para trocar na Goiana.

Ele experimentou a tropa e pediu:

– Quero seis cabeças.

Eu respondi:

-Está feito o negocio.

Ele falou:

-Hoje você levava ela até a troco de um cavalo, ela me deu uma párea, coice não quero mais ela.

Eu respondi:

-Eu vim pra apanhar sua mula, eu dava a tropa e ainda ia voltar à diferença, porque faz dois anos que estou atrás da tal mula Goiana mula igual essa você nunca mais vai montar.

Foi em Janeiro de 1990, depois fiquei sabendo que o Aristidão, da cidade de Pedra Azul, Fazenda Barreiro, no Vale do Jequitinhonha foi quem a vendeu pro Tercio Barnabé, que vendeu pro Neno Fonseca, Fazenda São Sebastião da cidade de Itatiba, que vendeu pro Turcão e Pedro Bonin, que vendeu pro Ademar Marqui (Mazolão), que depois vendeu pro Rubinho de Santo Amaro.

Eu trouxe a mula Goiana pro Rancho, era muito veiaca, dava coice,  manotada, pulava era enjoada. Fui trabalhando ajeitando ela, escolhi quem podia repassar ela.

Quem teve o prazer de monta-la e viajar em várias romarias e dedicou muito a ela é o meu irmão Zeca Temblado, chegou até a atrapalhar várias vezes a venda de quem a queria comprar. Colocando defeito nela depois de muito serviço.

E com o tempo foi ficando boa, em 1993, soube que ia ter uma prova de marcha a nacional de Belo Horizonte, trabalhei a mula para ir na prova. Tinha dia de andar 40 km, até que chegou o dia, carreguei ela e outras mulas com os companheiros Adão Trançador, Flavinho e os meus filhos Diego e Diogo. Chegamos na Gameleira em Belo Horizonte numa quinta-feira de madrugada, logo rodeou o pessoal de São Paulo que estavam com animais na prova. Seu Alceu veio e me disse:

– Você já rodou a mula na pista?

E eu respondi:

– Só trabalhei ela pra frente, não conheço nada de prova, mais tarde eu rodo na pista.Pra ‘oceis’ dar opinião pra mim.

Como não tinha conhecimento montei na mula Goiana trabalhei uma hora na pista de areia eles olhando a mula, Seu Alceu, Nadir, Zé Augusto, Valmir e Luciano Bracalenti me disseram:

– Ta boa mesmo, amanha vai ter demonstração na pista de grama, leva ela pro pessoal conhecer a Goiana.

Lá fui eu e rodei mais de hora na pista, sábado quando agente tava almoçando, chegou o Tercio Barnabé e perguntou pra mim como que estava a mula respondi:

– Ta boa, bem trabalhada, quinta-feira rodei na pista de areia uma hora e ontem rodei ela na pista de grama.

Ele olhou pra mim e disse :

-Então você já fez a prova com ela e a prova começa hoje.

Perdi a vontade de almoçar, fiquei muito chateado, mas toquei ela no sábado e classificou pra final, mas já senti ela cansada. À noite fiquei pensando no erro que tinha feito. No domingo toquei ela menos e consegui classificar em terceiro lugar na nacional. Carreguei a tropa para vir embora pro Rancho, mas estava aborrecido comigo mesmo, deixei descansar vários dias e comecei a monta-la. Passou algum tempo fui conversar com meu amigo Alceu em Indaiatuba, ele perguntou da mula Goiana respondi que estava boa, foi quando eu perguntei se a Goiana tinha chance de competir em outra prova nacional. Ele respondeu que seria difícil, pois ele era o mais velho cavaleiro que participava das provas, e falou que ainda não tinha montado em uma  mula que fosse boa todos os dias, e como ela tinha cansado ia ser difícil voltar na prova e classificar bem de novo. Então eu respondi:

-Eu conheço e tenho a mula boa, todos os dias que eu monto nela a acho melhor. E o erro foi meu de ter esgotado ela antes da prova.

Ele me respondeu:

– É assim que se aprende.

Pensei respondi:

-Esse ano vou trabalhar ela melhor, vou fazer dela campeã nacional.

Só que naquela época se a mula fosse campeã nacional ela não poderia mais participar de outra prova. Foi quando a vendi pro Zezinho da Panorama, com o trato de montar até a nacional. Passou meses, a primeira prova foi em Moji Mirim no Martelo de Ouro, Goiana ficou campeã. Depois de algum tempo foi em Ourinhos, Seu Fernando Quaguiliato fez a prova, a mula Goiana ficou campeã. Passou mais um tempo, chegou o dia da prova nacional em belo horizonte, foi no sábado, ela trabalhou tão bem no meio da tropa que todos comentaram. No domingo, que foi a final, a mula Goiana brilhou na pista e ficou campeã nacional em 1994, ganhando um Fusca 0km.

Depois passou vários anos tornei a compra-la em 2001, mas estava machucada e não servia mais para montaria. Mas até hoje, não vi e nem montei em uma mula marchadeira natural, e tão boa de sela que compare com a Goiana. Agradeço a mula Goiana, pois ela fez meu nome nas provas de marcha, e me fez tantas amizades boas que vou guardar pra sempre. Hoje ela está com 33 anos e tenho o orgulho de ter ela aqui no Rancho Tropeiro.”

Se você também tem um causo com muares e asininos manda para a gente! Seu depoimento pode aparecer nos veículos oficiais da ABCJPÊGA.