Veja como acontece o momento raríssimo do parto de uma mula

Mulas são estéreis, mas com procedimento científico a gravidez é possível.
O embrião é coletado das éguas e a gestação dura, em média, 330 dias.

Você já viu alguma mula parindo? Pois isso é um acontecimento raríssimo porque as mulas são estéreis. O Globo Rural visitou uma fazenda com várias mulas prenhes e deu até para mostrar o momento do parto. A reportagem é de Karine Garcia, da RPC de Curitiba.

Eles não têm nem um mês de vida e já são o centro das atenções de uma fazenda em Rio Grande (PR). Sheik e Ventania são filhotes famintos e curiosos. Nada incomum para um cavalo e uma égua se as mães deles não fossem duas mulas. Isso mesmo. Araguaia e Katrina são mulas usadas como barrigas de aluguel.

A mula vem do cruzamento entre o jumento e a égua, duas espécies diferentes. A égua tem 64 cromossomos e o jumento, 62. O resultado é a mula, com 63 cromossomos. Por conta disso, o animal é estéril, como explica o veterinário Carlos Eduardo Camargo, que é também professor da PUC, a universidade católica do Paraná.

“Naturalmente ela não tem como gestar porque o óvulo dela não consegue maturar. Ele para no seu desenvolvimento. O que a gente já sabe e a gente viu em alguns estudos prévios é que a mula tem útero, ovário e ciclo estral muito parecido com a égua”, detalha o veterinário.

Esse estudo com mulas barrigas de aluguel está sendo feito na fazenda experimental Gralha Azul, no município de fazenda Rio Grande, na região de Curitiba. O coordenador da pesquisa explica que a ideia é testar a capacidade materna das mulas e a viabilidade econômica da técnica. É a primeira pesquisa científica no Brasil sobre o tema.

“No mercado de hipismo, onde são éguas extremamente grandes, a mula não será uma boa receptora. Mas, em questão do Mangalarga machador, na própria produção de mulas, ela acaba sendo uma ótima viabilidade pela questão custo. É um animal mais rústico. Ela mantém uma condição corporal com menor quantidade de comida”, diz Carlos Camargo.

A transferência de embriãos funciona assim: o sêmen dos cavalos é analisado em laboratório. Os espermatozóides com mais qualidade são inseminados nas éguas. O embrião é coletado da égua-mãe e transferido para as mulas. A gestação dura em média 330 dias.

A mula com o nome de Girafa está com 15 dias de gestação e ela está agora como se fosse em uma sala de ecografia, com equipamento de ultrassom. Durante 60 dias, todos os dias, eles fazem esse exame.

“Esse é um dos objetivos da nossa pesquisa: acompanhar tanto a dinâmica fetal quanto a dinâmica ovariana desses animais. A estrutura circular [no visor do equipamento] é a vesícula embrionária. Com 21 dias, o embrião começa a aparecer na tela”, explica o veterinário.

Os resultados já surpreenderam o pesquisador. É o caso da performance da mula como mãe. Elas ficam até mais ariscas para proteger os filhotes. Katrina, por exemplo, resiste a qualquer aproximação. Para estabelecer uma comparação precisa, a pesquisa acompanha seis mulas e seis éguas prenhas. O comportamento dos dois grupos é acompanhado dia a dia durante dois meses. Depois, semana a semana.

Das seis mulas que fazem parte da pesquisa duas já pariram. A Marota 2 é a próxima da lista e o pessoal está com uma expectativa bem grande porque, inclusive, ela estava atrasada sete dias. Ela demorou dois dias para parir, mas o doutor Carlos Eduardo registrou o momento de um dos primeiros partos de mula da fazenda.

Mulas são estéreis, mas existem casos raríssimos de gestação desses animais, quando a mula herda um número par de cromossomos. Agora mais raro ainda é mostrar uma mula parindo e é o que o Globo Rural conseguiu ter imagens. A pesquisa científica se transformou em vida. E, depois de muito esforço, nasceu uma potrinha.

Um momento de descanso e logo o filhote já fica em pé. A mãe lambe a cria para tirar toda a placenta. Os primeiros passos, ainda meio cambaleante atrás da mãe, e a primeira mamada. O primeiro leite é o colostro, alimento muito importante porque vem com anticorpos e nutrientes especiais para a saúde do filhote.

Foi o parto da Katrina, a mula supermãe da Ventania, que conhecemos na reportagem, já crescidinha com duas semanas. Uma longa vida para os potrinhos da fazenda!

A pesquisa também conta com a participação da veterinária Sandra Fiala, que analisa as placentas das mulas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e do veterinário Eduardo Gastal, com análises hormonais feitas na universidade de Illinois-Sul, nos Estados Unidos.

https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2016/02/veja-como-acontece-o-momento-rarissimo-do-parto-de-uma-mula.html